A solidão que vem depois da solitude (#12)
É normal se sentir sozinha depois de, propositalmente, querer estar sozinha?
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
1 de março de 2025, 18h27
Tô escrevendo esse texto depois de cumprir meu primeiro programa do feriado de Carnaval: ir até uma cafeteria superfaturada sozinha, só eu e meu computador, pra escrever alguma coisa. Eu pensei em fazer alguns textos pro Substack, mas quando cheguei lá, fui tomada pela vontade de escrever mais um capítulo da minha história.
Pedi um pão de queijo recheado, um toast de carne seca com queijo e um café gelado de Ovomaltine (eu amo muito Ovomaltine).
Sentada lá numa mesinha do cantinho, não sei explicar o sentimento gostoso que eu senti. Não sei se era o ambiente, se era minha mente dizendo a todo instante ei, tá tudo bem estar sozinha, ou se foi qualquer outra coisa. Cheguei era 14h40, coloquei meus fones de ouvido — mesmo que a playlist de lá fosse muito gostosinha — e as palavras simplesmente começaram a escorrer pelos meus dedos.
Foi um sentimento tão bom, tão libertador. Não sei explicar como, pela primeira vez, me senti tão bem estando sozinha.
Moro sozinha desde 2021, mas durante minha vida toda, sempre fui muito independente. Eu evitava pedir ajuda pra não incomodar, porque sempre achei que as pessoas já tinham problemas demais pra se preocupar com os meus, então, o que eu podia, resolvia por conta própria. Ao decorrer do tempo, essas mesmas pessoas que estavam ao meu redor, começaram a se acostumar com a minha independência e isso se tornou um “ela é ótima! não incomoda, sempre se vira sozinha”. Eu queria continuar recebendo elogios por ser autossuficiente, então eu me obrigava a ser, mesmo quando não tinha forças pra isso.
Também sempre fui uma pessoa cercada de amigos. Comentei aqui em um texto sobre a minha sensação de pertencimento enquanto eu tava na faculdade, porque foi minha época mais badalada. Agora, com as vidas seguindo seus caminhos, me encontro um pouco sozinha.
O círculo de amigos diminuiu, alguns começaram a namorar e se entregaram aos relacionamentos a ponto de esquecerem dos amigos, outros mudaram de cidade, outros mudaram de país; e eu, continuo aqui, em busca de algum lugar ou de alguém pra chamar de lar.
Fui ao cinema sozinha pela primeira vez no ano passado, pra assistir “Todos menos você”, um filme de comédia romântica que eu queria MUITO ver. A sensação foi muito gostosa enquanto eu tava dentro do cinema, sem alguém do meu lado comentando cada trecho do filme, mas o antes e o depois foram meio esquisitos. Andando pelo shopping com meu fone de ouvido, eu me sentia meio deslocada. Parecia que tava todo mundo olhando pra mim e pensando: “coitada, tá vagando sozinha por aí porque não tem amigos”. Quando sentei em uma mesa pra comer meu Burger King, parecia ainda pior. Tinham famílias, casais e grupos por todos os lados. O que eu tava fazendo ali?
Mas logo eu pensava “ei, fui eu que escolhi isso, por que tô me sentindo tão mal por alguma coisa que eu queria?” e assim, me forcei a aproveitar minha companhia. Cheguei em casa feliz por ter conseguido fazer isso, mas depois de lá, nunca mais saí sozinha de novo. Não sei dizer se algo no meu inconsciente ficou um pouco traumatizado com a experiência ou se eu só não tava pronta ainda.
Acho que romantizam muito a ideia de aproveitar a própria companhia. Tô numa fase que eu tô querendo me desconhecer. Já passei tempo demais comigo, já sei o que gosto e o que não gosto, não quero mais ter que me forçar a fazer algo que eu não quero só porque é algo que as pessoas de fora julgam ser saudável. Ninguém tá dentro da minha cabeça pra saber como me sinto de verdade.
Mas hoje foi diferente.
Me senti muito bem escrevendo fora de casa e comendo comida boa. Me senti produtiva, me senti realmente aproveitando minha companhia. Fiquei lá até às 17h e alguma coisinha. Foram 3 horas fazendo algo que eu amo e, sinceramente, eu poderia viver assim a vida inteira: indo de cafeteria em cafeteria pra experimentar o cardápio inteiro e, como consequência, exercitar minha criatividade. Eu acho que nasci pra ser a escritora aesthetic que tanto mostram por aí.

Mas a vida não é um morango docinho. Depois que o feriado passar, minha vida de CLT volta ao normal. Não vou estar em uma cafeteria fazendo o que eu amo, vou estar em um escritório fazendo algo que me ajuda a ter o que comer no dia seguinte. Não é que eu não ame minha “primeira” profissão, porque eu gosto muito do que faço, mas não é o que nasci pra fazer, e sinto isso em cada veia do meu ser.
Depois que paguei minha conta, pedi meu Uber e saí pra fora pra esperar. O dia tava lindo, ensolarado, com as ruas um pouco vazias por causa do feriado prolongado — claro que tava todo mundo fora da cidade. E ali, eu comecei a me sentir sozinha de novo. Eu queria muito continuar esse dia, queria sair dali e ir pra outro lugar fazer outra coisa. Pensei o que penso sempre: “se eu tivesse um carro, ninguém ia me segurar”. Se eu tivesse um carro, eu acho que aproveitaria mais meus momentos de solitude, porque sei que ele me daria uma liberdade que outros meios de transporte não dão. Eu me sentiria um passarinho batendo as asas — mesmo que o combustível não permita bater as asas infinitamente.
Com um carro, eu me sentiria menos dependente das coisas. Eu entraria nele e iria pra outro lugar, nem que fosse a uma praça pra ficar sentada lendo alguma coisa.
Quando meu Uber chegou, me passou um filme pela cabeça. Eu queria ter uma pessoa específica pra mandar mensagem e falar “ei, bora tomar um chopp?”, mas, em vez disso, postei um story nos meus melhores amigos quase implorando pra alguém fazer isso comigo, porque eu não queria voltar pra casa pra me sentir sozinha.
Agora, sentada no meu quarto, sigo com a roupa de sair, na esperança de que alguém responda aquele story com um “bora!”. Mas sei que não vai acontecer, porque tá todo mundo com a própria galera, aproveitando um feriado que mal começou.
E eu, que comecei o dia querendo ficar sozinha, vou terminar ele me lamentando mais uma vez por sempre estar sozinha.
Não sei se isso tem resolução, mas sigo buscando por isso. No fim das contas, sempre serei eu e eu mesma, e é por isso que é tão importante que eu saiba tirar proveito de uma coisa tão importante, sem que ela se torne intolerável depois.
Talvez um dia eu aprenda a aproveitar minha própria companhia sem esse sentimento que a acompanha depois.
caramba… eu me sinto assim o tempo todo. acordo tentando acreditar no "nossa, como é bom aproveitar minha própria companhia", até que passo por um barzinho e vejo amigos juntos, rindo e bebendo, como se fosse o momento mais legal do mundo – e eu queria estar ali. já cansei de postar indiretas nos stories esperando ser chamada pra sair, até que aceitei que nunca sou a primeira opção de ninguém :) é difícil enxergar o céu azul e o sol lindo quando você se sente tão só. amizades preenchem lacunas que nenhum outro tipo de relação alcança, e essa falta só cresce em mim a cada dia. queria poder aparecer na sua casa com um potão de sorvete e a intenção de passar horas nos confortando fazendo tudo que nos deixam felizes, mas... é isso. você sempre acertando em cheio, e olha. você nasceu pra isso sim.
Ameeei o texto!!! Me identifiquei demais. Eu sempre fui muito independente, desde nova acostumei a fazer tudo por conta própria e, sinceramente, às vezes isso é beeem cansativo. Com o tempo, fui me forçando não só a encarar as coisas sozinha, mas também a gostar disso. E posso dizer que aquela sensação estranha que você teve indo pro cinema ou saindo do café… ela vai passando (pelo menos comigo foi assim).
Eu sentia exatamente a mesma coisa, e hoje em dia faço essas coisas e me sinto empoderada por elas. Saio andando pela rua sozinha e me sinto foda! Às vezes, saio da faculdade e vou no CCBB ou em lugares que gosto só pra sentir esse prazer de estar comigo mesma.
Meu conselho (não pedido) seria sempre se reconectar com o que faz você amar sua própria companhia. Na próxima ida ao café, que já é algo que você curte, talvez se forçar um tico a andar pelas ruas… acho que, aos poucos, você vai ganhando confiança, e isso passa a ser uma delícia também!