E se eu encontrasse a minha "eu" do futuro? (#19)
Eu assisti a um filme ou tive uma crise existencial?
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
AVISO IMPORTANTE: esse texto tem MUITO spoiler do filme “My Old Ass” (Meu Eu do Futuro), disponível no Prime Video. Aconselho fortemente que você assista antes de ler. Vale super a pena e esse texto provavelmente vai fazer muito mais sentido quando você tiver visto o filme.
No último final de semana — antes desse último que passou —, eu assisti a um filme daqueles que caramba, ele mudou minha existência.
Isso poderia ser facilmente um entretenna, mas eu acho que tenho muito mais a falar sobre ele do que só recomendar.
“Meu Eu do Futuro” — originalmente chamado de My Old Ass — é um filme que mistura comédia, drama e um toque de ficção científica pra explorar as complexidades do amadurecimento e das escolhas de vida.
Dirigido por Megan Park, o filme acompanha Elliott, uma jovem de 18 anos, que está prestes a deixar sua cidade natal pra ir pra faculdade. Durante uma experiência psicodélica com amigas, ela encontra sua versão de 39 anos. Essa versão mais velha surge com conselhos e alertas sobre o futuro, e incentiva Elliott a valorizar mais o tempo com a família e a repensar suas escolhas amorosas.
Dá uma olhadinha no trailer! 👇🏻
A partir daqui, vou sentar o dedo no spoiler porque preciso falar sobre as coisas que acontecem no filme pra poder contextualizar o assunto, então, se você ainda não assistiu, por favor, assista!
Vai lá, eu te espero!
(Salva o post pra não esquecer de voltar aqui)
É sério, pode ir!
Faz quanto tempo que você não para na frente da TV ou do computador por mais de 1 hora pra assistir alguma coisa sem colocar a mão no celular?
Vamos lá…
Nos últimos dias, tava rolando uma trend de “fui tomar café com minha eu de 14 anos”, e confesso que todos os textos, vídeos e afins, me tocaram profundamente. É surreal pensar em quanto tempo passa e em como temos mais carinho com nós mesmas depois que vemos toda a situação com um pouco mais de distância. Você pensa em situações que poderia ter evitado, mas sabe que se não fossem elas, você não teria aprendido algumas lições valiosas.
O fim de uma amizade pode ter doído muito, mas depois você percebe que, na verdade, acabou sendo um livramento. Aquele coração partido também doeu muito, mas foi ele que ajudou você a amadurecer, notar os padrões dos seus relacionamentos e colocar fim num ciclo que só te fazia mal.
Assistir a esse filme, me fez pensar muito sobre a pessoa que eu quero ser. Em como vou estar quando eu tiver 39 anos, se tudo vai estar ainda melhor do que pensei ou se vou tomar um rumo completamente diferente do que achei que tomaria.
Logo nas primeiras cenas que a Elliott-39 (vou fazer assim pra separar as personagens) aparece, a Elliott-18 já pergunta pra ela: “Onde a gente mora? Temos filhos? Somos felizes e realizadas?” e logo engata em uma pergunta que pede pra que a Elliott-39 fale alguma coisa boa sobre o futuro. Quando ela diz que tá fazendo doutorado, a Elliott-18 fica com ÓDIO por estar com aquela idade e ainda estar estudando.
“Achou que ia estar casada, ter vários filhos e o emprego dos sonhos aos 40?”
“……?????”
“Achou? Ah, beleza.”
Aproveitando o trecho, uma reflexão: você tá exatamente no lugar que achou que estaria quando tinha 10 anos? Quando tinha 15? Quando tinha 18?
Já falei em um texto aqui que, quando eu tinha 13 anos, eu achava que o auge da minha vida adulta seria ir no centro da cidade sozinha. Mas quando cresci, percebi que eu só queria aquilo porque eu não podia ter; porque minha mãe jamais deixaria uma pré-adolescente “solta no mundo” assim. E claro que ela tava certa, mas eu não entendia isso, então, meu sonho era esse.
Assim que comecei a poder e a precisar sair sozinha pra resolver as coisas, eu quase pagava alguém pra resolver tudo por mim. Atualmente, eu moveria mundos pra não precisar resolver nada.
No filme, a partir dali, a Elliott-39 dá apenas um conselho: evitar caras que se chamem Chad. Obviamente a Elliott-18 fica sem entender nada, já que a sua versão mais velha poderia dar qualquer conselho sobre os maiores arrependimentos da vida dela pra fazer com que a vida delas fosse mais fácil e pede pra evitar um cara? Ok!
Isso também me fez refletir muito. Se eu tivesse meus 39 anos, com a chance de falar pra minha versão de 24 pra evitar a todo custo alguém chamado nome censurado, será que eu faria isso? Eu mudaria todos os momentos vividos a troco de ter uma realidade sem que ele existisse na minha?
E cheguei a conclusão de que: não.
Meu Deus!!!!! Como assim você não apagaria um dos seus maiores traumas de amizade, relacionamento e trabalho (sim, tudo no mesmo combo) se pudesse evitar isso?????
Toda a situação me fez implorar pra minha psicóloga antiga pra ela voltar a me atender porque eu tava surtando de uma forma que nunca tinha acontecido antes? Sim! Mas eu não me negaria a viver tudo o que vivi só pra não ter esses traumas. Por incrível que pareça, eu evoluí muito como pessoa depois que tudo deu errado. Foquei em coisas que tinha deixado de lado, dei mais importância pra mim e foi esse erro que me permitiu ver as atrocidades que eu faria por estar apaixonada. E eu nunca mais quero fazer isso de novo. Mas se eu não tivesse essa experiência, eu não teria aprendido nada e não saberia meus limites.
Algumas coisas precisam dar errado pra que a gente saiba qual é o certo a se fazer. E é nesse processo que a gente se conhece e se cura.
“Sabe uma das melhores coisas de ficar mais velha? (…) A gente para de se preocupar com o que pensam. É ótimo.”
Essa foi outra frase que me pegou, porque mesmo que eu ainda não esteja perto dos 40, consigo notar que é, sim, muito verdade. A eu adolescente se importava com qualquer mínima coisa que fazia. Eu não vivia pra mim, eu vivia pros outros. Qualquer ação minha era pautada em quem acharia que eu tava pagando mico, no que o carinha que eu gostava ia pensar, em como tal escolha minha pegaria mal e no quanto eu seria excluída se não falasse com tais pessoas ou fizesse coisas específicas.
Atualmente parei de me importar? Claro que não. Mas agora, percebo que isso diminuiu drasticamente. Eu não penso mais que tá todo mundo prestando atenção porque tô sozinha no shopping, que estão rindo da forma que faço os exercícios na academia ou que estão achando um story vergonhoso. É o famoso “se dê a devida desimportância”. Ninguém liga tanto assim pras coisas que você tá fazendo, sabe? Você vai deixar de fazer o que gosta ou tem vontade porque uma pessoa que não tem nada a ver com a sua vida tá achando assim ou assado?
“Não é a primeira vez que você vai conseguir exatamente o que queria e perceber que não é o que queria.”
Me pegou fundo também… E eu não diria nem que é aquela coisa da ânsia de ter e o tédio de possuir, mas só que, às vezes, a gente foca nas coisas erradas. Você quer muito aquilo por que você quer ou porque outras pessoas disseram que era o melhor? Ou por que viu alguma blogueira no Instagram dizendo que não tem como não ser feliz se você for por aquele caminho?
E, por favor, isso não é pra entrar numa pira de não saber o que é certo e o que é errado a se fazer pra ter a vida perfeita. A gente nunca sabe. E nunca vamos saber se não tentarmos. Porque a vida é exatamente isso: tentativa e erro. Não tem como seguir por um caminho que indica 100% de sucesso — até porque, o que exatamente significa essa porcentagem de sucesso pra você?
Não tem como responder a isso com 18 anos, com 25, com 39 ou com 63. A gente sempre vai estar tentando, tomando caminhos diferentes, mudando de ideia, evoluindo, e é justamente isso que tem de tão legal em viver. Você descobre coisas incríveis e se descobre muito mais em todo esse processo.
Depois que a Elliott-18 conhece o tal do Chad, as coisas azedam. Ele parece um cara tão legal, todo mundo adora ele, e você fica se perguntando caramba, o que esse idiota fez? Se você já se envolveu com esse tipo, sabe bem do que eu tô falando. Os caras que eram os mais galera foram os que mais acabaram com meu coração (insira aqui o cara de nome censurado de novo).
Conforme Chad e Elliott-18 interagem e ele parece aparecer em todos os lugares que ela tá, você fica pensando “meu Deus, saiiiii daí!!! Não fala com ele, não olha pra ele, evita ele!!!!”, porque se a Elliott-39 podia dar um único conselho e foi se manter longe dele, a vida dela deve ter virado de cabeça pra baixo mesmo, né? Aquele tipo de decepção amorosa que te destrói de um jeito que leva anos pra curar — ou, pelo menos, doer menos.
Ao decorrer do filme, o Chad continua se mostrando uma pessoa incrível e a Elliott-18 se desespera, porque ela quer se aproximar dele, mas não quer ir contra o conselho da sua versão mais velha — e não julgo ela, eu faria exatamente a mesma coisa, afinal, ela já viveu e sabe como isso acaba, né?
Elliott-18 tenta ligar, tenta mandar mensagem, mas a Elliott-39 não responde ela de jeito nenhum, então ela taca o foda-se e chama o Chad pra dar uma volta de barco. Essa cena tem um dos monólogos mais legais do filme e um dos que mais me fez refletir.
“Lembra da última vez que você saiu com seus amigos quando criança pra brincar de faz de conta?”
“Lembro que eu fazia muito isso.”
“Lembra a última vez que você fez isso?
“...”
“Não é triste? Pensar que teve uma época em que você pedalava com seus amigos, fingindo que zumbis perseguiam vocês. Todo mundo sujo e se divertindo demais. E aí… A gente foi pra casa, deixou a bicicleta na garagem e foi dormir sem se dar conta de que nunca mais faria aquilo. O problema de não nos despedirmos é que não aproveitamos a última vez que faremos aquilo”
Essa frase carrega um peso silencioso, uma verdade que muitas vezes só percebemos tarde demais: o fim das coisas não vem com um aviso. A gente não sabe que é a última vez que tá fazendo algo até muito tempo depois, quando olha pra trás e percebe que nunca mais voltou a acontecer.
O mais cruel disso tudo é a casualidade. Quando éramos crianças, saíamos pra brincar, inventávamos mundos, sentíamos a liberdade no vento enquanto pedalávamos. E então, sem nenhuma cerimônia, a gente guardou a bicicleta e foi dormir. No dia seguinte, talvez já estivéssemos ocupados demais, talvez o encanto tenha se diluído sem que notássemos, talvez apenas acordamos pensando que já éramos grandes demais pra aquela bobagem. Não teve uma despedida, um encerramento simbólico. Só um fluxo natural da vida, que levou a gente pra frente sem dizer “ei, acabou, tá?”.
Isso acontece o tempo todo, em todas as fases da vida. É a última vez que falamos com um amigo antes de ele se mudar e a amizade nunca mais ser a mesma. A última vez que um grupo se reúne antes que cada um siga pra lados diferentes. A última vez que seguramos a mão de alguém sem saber que nunca mais teremos essa chance. Se soubéssemos, teríamos prestado mais atenção? Teríamos ficado mais tempo?
Talvez a grande lição disso seja a presença. Estar verdadeiramente nos momentos, sem esperar por avisos de que aquilo tá acabando. Porque, em algum momento, inevitavelmente, vai estar.
E agora vem o baque do filme. Não preciso nem dizer que eu fiquei por pelo menos 20 minutos chorando e olhando pro teto quando a Elliott-39 finalmente disse o porquê de ser tão ruim que a versão mais nova dela se aproximasse do Chad.
Tô avisando, tem spoiler!!!!!!!!!!!
“Ele morre. Foi o que ele fez. E você é tão perdidamente apaixonada por ele que perde o rumo. Não se imagina amando mais ninguém. E não dá pra salvá-lo. Sei que vai dizer isso, mas não dá pra salvá-lo. E você não acha nada de ruim nele porque não tem nada de ruim nele. Elliott, é difícil, tá? Muito, muito difícil. E não quero que você sinta essa merda.”
Fiquei estática por pelo menos 20 minutos olhando pro nada, juro. Eu imaginei todos os cenários possíveis. Pensei que ele poderia trair ela, que ele tava de férias na região, mas na verdade tinha namorada, que ele ia só ir embora sem se despedir, sei lá, qualquer coisa! Da forma que a Elliott-39 pediu pra Elliott-18 evitar caras chamados Chad, eu pensei que fosse um daqueles conselhos tipo “olha, se você puder evitar se envolver com músicos, por favor, faça isso”.
Mas quando a revelação veio, eu fiquei muito chocada. A gente sempre pensa sobre a morte, mas também pensamos muito pouco sobre ela. Sempre que viajamos, vem um “meu Deus, e se esse avião cair?”, saímos na rua e “e se eu for atropelada?”, andamos pelo centro e “já pensou se vem uma bala perdida?”, mas nunca pensamos sobre de fato, porque não queremos que aconteça.
Não queremos perder nossos amigos, não queremos perder nossos pais, não queremos perder os amores das nossas vidas. E mesmo não querendo, ainda aproveitamos muito menos do que deveríamos. Evitamos sentimentos, evitamos falar coisas porque temos medo da resposta, evitamos fazer outras porque não queremos o constrangimento. E é evitando coisas que paramos de viver.
Então a Elliott-18 mandou a próxima canetada:
“Eu vou me apaixonar pelo Chad. Vou amá-lo demais pelo tempo que tivermos.
“Você diz isso porque é jovem e burra.”
“Se não fosse assim, a gente nunca teria coragem pra nada! (...) Se a gente soubesse como a vida é uma merda e injusta, não ia sair de casa. A gente nunca ia se divertir com ninguém porque ia ficar pensando em como vão morrer. Quando a gente é jovem e burra, não ficamos pensando nisso. E é o que nos permite viver.”
E, sinceramente, ela não poderia estar mais certa nessa decisão. Eu faria exatamente a mesma coisa. Não sei vocês, mas eu jamais me negaria viver alguma coisa incrível por medo do quanto eu vou sofrer depois.
Dias atrás, vi um vídeo de uma moça falando que a gente é uma geração muito medrosa. Ficamos nos privando de tanta coisa como se elas fossem o fim do mundo. “Ai, mas se eu me entregar eu vou sofrer”, sim, e daí? Dor de amor passa. “Ah, mas se eu postar isso vão falar tal coisa”, e de novo: e daí?
Por que a gente se preocupa tanto com o que vai acontecer depois sendo que não nos permitimos nem a viver o agora? De que adianta criar 1001 cenários se você não vive nem o cenário atual? A gente precisa aprender a dar passos do tamanho da nossa perna.
Tudo bem quebrar a cara. Tudo bem errar, se frustrar, mudar de ideia. O problema não é se permitir, é se bloquear por medo de algo que nem aconteceu. A gente perde mais tempo tentando prever o que pode dar errado do que vivendo o que pode dar certo.
E se, em vez de fugir, a gente decidisse encarar? E se, ao invés de tentar minimizar qualquer risco, a gente começasse a aceitar que a vida tem incertezas e que algumas delas são, na verdade, o que faz tudo valer a pena?
É cansativo viver no “e se?” o tempo todo. “E se eu não for suficiente?”, “e se rirem de mim?”, “e se não der certo?”. Mas também, e se der? E se você se surpreender? E se, ao invés de se privar, você descobrir um lado seu que nunca teve espaço pra existir?
Então, talvez seja hora de se perguntar: o que é pior? O arrependimento de ter tentado ou o arrependimento de nunca saber o que poderia ter sido?
A gente não precisa que uma versão do futuro venha e diga que vai ficar tudo bem, porque, aparentemente, não vai. Mas enquanto a vida acontece, a gente pode tentar descobrir o que nos espera da melhor forma possível.








Comecei a ler, parei, fui assistir o filme, voltei “correndo” e amei tudo o que vc escreveu. Eu realmente estava precisando desse filme e das suas palavras, obrigada :)
Legal, me convenceu. Vou assistir!