Só um fã entende outro fã: parte 2 — as conexões que só um fandom traz (#25)
Ser fã me trouxe mais que a sensação de pertencimento.
Antes de começar, a continuação do álbum da primeira parte pra você relaxar:
Esse texto é a segunda parte de outro. Ele não precisa ser lido se você não quiser saber das coisas que eu era obcecada, mas seria muito legal se você lesse!
Como falei na parte 1, eu era fã de coisas desde que eu era só um pedacinho de gente. Eu nem entendia direito o que tava acontecendo, mas me conectava com pessoas que nem sabiam da minha existência, com histórias que pareciam legais demais pra ser verdade, ou às vezes, até parecidas demais com a minha.
Eu acho que quem é fã de alguma coisa, busca preencher algum vazio que é difícil identificar por que existe. É como se fosse um buraquinho bem pequenininho, daqueles que esvaziam um pote cheio de água, mas de uma forma quase imperceptível, sabe? Daquele tipo que machuca, você sabe que tá ali, mas não sabe como tapar.
E aí, aparece uma série incrível, um ator muito engraçado, uma banda de garotos muito divertidos, uma cantora que compõe letras que parecem ter sido escritas pensando em você, e tudo muda. Aquele vazio ainda tá ali, mas agora, parece que você recebe tantas coisas, tanta felicidade, que não dá tempo da água esvaziar, porque tá sempre transbordando.
A gente transborda de amor e de presença, mesmo que distante. Porque ser fã é isso: estar perto sem tocar, se importar sem ser notado, sentir que conhece alguém que nunca olhou nos seus olhos. É meio doido quando a gente pensa racionalmente, mas não tem nada de racional nisso. É emoção pura, crua, bonita.
Tem quem ache exagero, perda de tempo, coisa de adolescente. Mas quem sente de verdade sabe que não é sobre isso. É sobre encontrar um cantinho seguro, um lugar pra existir com menos peso, um espaço onde o coração bate mais rápido só de ver uma notificação nova, uma performance diferente, um post inesperado. É sobre se sentir visto, mesmo que não estejam olhando pra você.
E a verdade é que esses momentos constroem quem a gente é. Eu sou feita de mil referências, de frases que anotei porque um personagem falou, de refrões que cantei chorando no quarto, de sonhos que nasceram de entrevistas que assisti escondida de madrugada. Sou feita dos brilhos nos olhos que ganhei por me importar demais com algo que muita gente dizia ser “só uma fase”.
Mas nunca foi só uma fase. Foi — e ainda é — um pedaço essencial de mim.
E olha, que pedaço! Aquele que sabe a coreografia inteira de um clipe dos anos 2010, que já teve briga séria por causa de shipp errado, que fez mutirão pra votação como se fosse eleição presidencial, e que, com orgulho, já passou horas na fila do show pra ficar mais perto do palco (mesmo com sol na cara e dor nas costas).
E claro, tem os surtos. Ai, os surtos. Aquele momento em que a gente vê a notificação, o coração acelera, você esquece como respira, digita “MEU DEUS” quinze vezes seguidas e ninguém em casa entende o que tá acontecendo. Mas tá tudo bem, porque a gente entende. E a gente tá junto.
Porque no fim, ser fã é isso: rir, chorar, surtar e amar juntinho de uma galera que também acha tudo isso tão grandioso quanto você. É uma grande rede de emoção compartilhada — e, na real? Eu não trocaria isso por nada.
E o mais louco é como isso tudo vai escapando da internet e invadindo a vida real sem pedir licença. De repente, você tá usando camiseta com referência interna que só outro fã vai entender. Tá criando apresentações de escola inspiradas em turnê, tá montando playlist com a mesma dedicação que um diretor musical faria pra um filme. E, claro, tá fazendo amizade com gente de outro estado — às vezes até de outro país — só porque surtaram igual você num vídeo de bastidores de dois minutos.
Atualmente, eu tenho pelo menos 4 grupos de amigos que vieram da internet e de fandoms diferentes. Tenho um de livros; um que era pra Mr. Robot e que agora a gente se fala todos os dias com uma intimidade nada saudável e com direito a call todo sábado só pra falar besteira; tem um que surgiu da época que eu acompanhava The Flash; e o mais atual, com pessoas que conheci aqui no Substack.
Essas conexões são reais. São muito reais. Você conhece alguém num fandom, começa falando de uma cena, um show, um álbum, e quando vê já tá contando segredo, desabafando sobre a vida, pedindo conselho amoroso, rindo junto de meme besta às três da manhã. Porque vocês não são “só fãs da mesma coisa”. Vocês sentem igual. Amam igual. Entendem.
E aí, no meio de uma vida corrida, cheia de boleto, responsabilidade, cobrança, faculdade, trabalho, ansiedade e tudo mais, saber que existe esse pedacinho de mundo onde você pode ser só você, com seu entusiasmo exagerado e sua paixão sem medida… é um alívio. Uma alegria. Um respiro.
Tipo aquele momento em que toca a música, e você esquece o caos, fecha os olhos e canta como se estivesse no palco. Porque, naquele instante, o mundo é seu.
No fim das contas, ser fã é ter um superpoder. É transformar o ordinário em extraordinário, é fazer de uma quarta-feira qualquer o melhor dia do mês só porque saiu uma entrevista nova. É colocar glitter no tédio, música na bagunça, cor nos dias nublados.
E quer saber? Que sorte a nossa por sentir tanto. Por ter encontrado algo — ou alguém — que faz a gente vibrar, sonhar, acreditar. Mesmo que o mundo lá fora não entenda. Mesmo que pareça bobo pra quem nunca viveu.
Porque a verdade é uma só: se amar algo com esse tanto de intensidade é ser “demais”… então que a gente continue sendo demais. Sempre.
Ser fã abriu uma janela gigante pra mim. Me fez ver o mundo de um jeito mais sensível, intenso, coletivo. Me ensinou que dá, sim, pra se conectar profundamente com alguém só porque vocês amam a mesma coisa — e que essa coisa vira só o primeiro passo. O resto a gente constrói no surto, no apoio, na troca. A gente reconhece no outro aquele brilho no olho, aquele nervosismo antes do lançamento, aquele senso de humor específico que só quem passou pela mesma saga emocional vai ter.
Pra quem não é fã de nada, acredito que o sentimento se assemelha ao de estar apaixonado. O frio na barriga, a sensação de alegria genuína por ver alguma foto nova da pessoa sorrindo, ficar feliz com a felicidade dela…
E eu sei que pode parecer estranho, afinal, esses artistas nem sabem que a gente existe, né? Mas seu crush também não sabe da sua existência.
Não é só sobre “gostar muito”. É sobre viver junto. É sobre criar um microcosmo (gostou da ref?) inteiro feito de códigos, piadas internas, músicas que agora têm rostos, e rostos que agora moram dentro de você, mesmo que do outro lado da tela.
E se tem uma coisa que aprendi sendo fã, é que não existe amizade pequena quando nasce do mesmo amor grande. É por isso que até hoje eu confio nos amigos que vieram pelo fandom — porque se a gente sobreviveu junto a um hiato, um lançamento horrível e um hate pesado, a gente aguenta qualquer coisa.
Não é sobre a música ou a série. É sobre a sensação de pertencer a algo que te entende, antes mesmo de você entender a si mesma. Sobre ser adolescente e achar que aquele personagem te salvou. Sobre ouvir uma voz e saber onde você tava da primeira vez que aquele refrão tocou. É sobre vibrar, chorar, colecionar, delirar. Amar em grupo, com gente que você nunca viu pessoalmente, mas chamaria de melhor amigo sem hesitar.
No fim, o que une fã a fã não é o artista — é o sentimento. A certeza de que existe alguém em algum lugar do mundo que sentiria tudo exatamente como você sentiu. E isso, minha gente, é coisa rara.
Hoje, deixo aqui meu carinho pra quem já sentiu o coração bater mais forte com teaser, defendeu ídolo como se fosse da família e chorou em show. Eu te entendo.
Eu sou você. ❤️
mds… vc tá me lembrando de quando minha família toda que se odiava se juntou só pra assistir o último cap de game of thrones, jurooooooo, foi o melhor momento da minha vida! arte une as pessoas, e vc pode até detestar ela e não combinar em nd com ela na vida real, mas se vocês estão num mesmo ambiente, com algo que ambos gostem e adorem, as diferenças são todas deixadas de lado…
o video do show do lany 💙 que saudade!