Você nunca vai fazer só UMA coisa (#10)
A gente nunca faz só uma coisa, porque pro trabalho existir, precisa de muitas mãos — e, na maioria das vezes, todas são as nossas.
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
“O segredo de um grande sucesso está no trabalho de uma grande equipe.”
Tá, mas e se eu não tiver uma equipe?
Pra começar a contextualizar, eu sou autora independente (contando pra quem não sabe), e acho que só isso já explica muita coisa sobre o que vem a seguir neste texto.
A escrita sempre esteve presente na minha vida e eu sempre fui apaixonada por isso. Eu lia livros e escrevia resenha sobre eles no meu caderninho que tinha uma estampa da moranguinho, mesmo que eu estivesse na quinta série — porque na minha cabeça da época, ter 10 anos já me fazia adulta.
Após escritas de crônicas, fanfics, histórias dos mais diferentes jeitos, pensei em me aventurar pelo mercado da escrita independente. E foi aí que o calo apertou.
Descobri da pior forma que não era só abrir o Word, deixar as ideias fluírem e pronto. A história precisava de uma capa, precisava de diagramação, precisava de ilustração pra que as pessoas sentissem vontade de ler só de olhar pra cara dos personagens. Não bastando isso, também precisava de divulgação, de publi, de anúncios pagos e todo esse cacete do marketing — eu posso falar mal porque é a minha profissão. ✋🏻
Às vezes, eu queria que fosse mais simples. Queria que bastasse escrever um livro pra ser escritora. Cantar uma música pra ser cantora. Pintar um quadro pra ser pintora. Mas viver disso — viver do que se ama — exige mais. Nunca dá pra ser só uma coisa.
Se você quer viver de arte, de qualquer arte, precisa fazer muito mais do que “só” criar. Precisa promover. Precisa aprender marketing, entender de redes sociais, estudar o público, planejar estratégias, descobrir como fazer o que faz você chegar até as pessoas. Precisa transformar sua arte em produto sem perder a essência do que te fez criá-la. Precisa ser sua própria vitrine e seu próprio vendedor. E precisa insistir nisso todos os dias, porque ai de você se não tiver constância no Instagram ou se não postar dois memes por dia no TikTok.
Viver custa caro e o mercado não perdoa quem só espera ser descoberto.
Sou formada em publicidade, mas me irrita muito essa coisa do quem não é visto não é lembrado. E me irrita muito porque é verdade, e verdades são difíceis de engolir. Até falei sobre isso aqui esses dias:
Eu não quero precisar ser vista pra ser lembrada. Mas só no nosso país, existem milhares de escritores, milhares de músicos, milhares de pintores, milhares de podcasts, milhares de newsletters. E no meio desses milhares, você é só mais um. Não quero ser rude, apenas dizer: como alguém vai te achar nesse meio se você não fizer nada?
E o você aqui na questão me inclui também, tá? É mais autocrítica do que ataque direcionado, mas se a carapuça serviu…
E aí também entra outra coisa: não aguento mais produzir conteúdo! Eu acho, inclusive, que a gente deveria parar de produzir conteúdo e começar a destruir conteúdo. É tanta informação, tanta coisa por minuto, que nosso cérebro não consegue assimilar tudo.
Sei lá, essa coisa toda é um paradoxo. Eu não quero ter que ficar fazendo tudo isso, mas eu também sei que se eu não fizer tudo isso, o que acontece comigo? Vou virar a escritora que tinha muito potencial, pena que não vingou? Se eu não fizer por mim, vai vir alguém e passar com a carroça em cima sem nem se importar com quem eu sou.
Porque as pessoas querem muito mostrar o seu, mas não querem tirar um tempo pra olhar o dos outros. E digo isso como uma crítica ao próprio Substack. Quantas newsletters daquelas que mandam no chat você abre? Aposto que poucas, né? É mais fácil só chegar lá, largar seu link e ir embora.
Precisar estar sempre em movimento pode ser exaustivo. Às vezes, parece que a parte que mais amamos fazer vira a menor porcentagem do tempo que gastamos. Escrevemos um livro e depois passamos meses divulgando. Lançamos uma música e logo percebemos que o maior trabalho não foi gravar ela, mas colocar ela no mundo. Criamos, mas também precisamos performar, negociar, administrar. E quem não entende essa parte do jogo, muitas vezes, fica pelo caminho.
O lado bom? Nunca estivemos tão conectados, e há mil maneiras de encontrar e formar um público. Nunca foi tão possível construir um caminho próprio. Mas isso exige aprender, testar, se frustrar e continuar tentando. Exige saber que a arte por si só não basta, mas que ela continua sendo o motivo pelo qual vale a pena insistir.
Porque no fim do dia, por mais cansativo que seja, a gente não saberia viver sem fazer isso.
Ser especialista em algo é ótimo, mas não basta. Você pode ser o melhor no que faz, mas se ninguém souber disso, de que adianta? É aí que entram todas as outras funções que, querendo ou não, você vai precisar assumir.
Se você é escritor, também precisa ser marketeiro. Se é músico, vira designer. Se é ilustrador, aprende sobre finanças. O artista independente, principalmente, sabe que criar é apenas uma parte do trabalho. A outra — igualmente importante — é garantir que sua arte chegue até as pessoas certas.
O romantismo da ideia de “só criar” não condiz com a realidade. Claro, em um mundo perfeito, você poderia se dedicar apenas à sua arte enquanto outra pessoa cuidaria do resto. Mas, para a maioria, esse “resto” é essencial. É saber como divulgar seu trabalho, criar uma identidade, entender o mercado, negociar contratos, manter uma presença digital ativa.
E sim, no começo, pode ser frustrante. Você só queria escrever seu livro, mas agora precisa aprender a fazer capas e entender o algoritmo das redes sociais. Você só queria cantar suas músicas, mas agora está pesquisando sobre distribuição digital. É cansativo. Mas também é poderoso.
Porque no momento em que você domina essas habilidades, ninguém pode tirar isso de você. Você não depende de ninguém para fazer seu trabalho existir.
Isso não significa que você tenha que fazer tudo para sempre. Com o tempo, delegar é necessário. Mas até lá, ser múltiplo é o que te mantém no jogo. O mercado muda rápido, as oportunidades surgem pra quem tá atento. Saber um pouco de tudo te dá vantagem, te torna mais ágil, mais preparado.
O mundo pertence a quem entende que não dá para fazer só uma coisa. E quem aceita isso não só sobrevive — prospera.
Por isso, se esbarrar com um artista por aí, interaja com a arte dele, divulgue, ajude, principalmente, se você também for um artista.
Trate a arte de alguém como você gostaria que tratassem a sua.
Mas, enquanto isso, vamos dar as mãos e torcer pra não enlouquecer.
Momento: sendo vista pra ser lembrada




Essas ilustrações são dos meus dois livros publicados como e-book na Amazon. Se quiser ver mais sobre eles, é só clicar aqui. São comédias românticas que falam muito sobre amizade e sobre amores que não precisam ser implorados pra que sejam genuínos e incríveis. 🥹
E se você chegou nesse post por acaso e ainda não se subscreveu, aproveita e faz isso agora. Tenho tanto conteúdo aleatório, que provavelmente pelo menos um vai ser do seu gosto — ou não também.
Recomendo a leitura da news que postei ali em cima:
como alguém que respira marketing, é exaustivo ter um checklist mental infinito toda vez que quero fazer algo. não basta escrever, tem que divulgar. não basta divulgar, tem que fazer de um jeito que não pareça chato ou mais do mesmo. não tem um dia em que eu não pense nisso e não me frustre. não é só gravar um stories, tem que ter um cenário perfeito, tudo bem amarradinho pra funcionar. é uma cobrança imensa e sufocante, mas, no fim, necessária (talvez nem tanto quanto parece). no final das contas, a gente precisa dar um jeito e seguir – porque ficar só frustrada não resolve nada.
Seu texto é muito real!
Várias vezes tive vontade de desistir de viver de arte por causa dessa necessidade de ser múltipla (logo eu que odeio viver conectada o tempo inteiro nas redes), e eu meio que desisti por ora. Com o tempo, fui fugindo para outras possibilidades profissionais para não ter que lidar com isso. Mas lá no fundo, fica esse sentimento de que eu deveria tentar e fazer mais, e por onde.
Enfim, um meio desabafo, mas adorei o seu texto! Acho que os (multi)artistas se identificam, com certeza!
Abraços!✨️