Onde ser você e ter você é suficiente pra você (#20)
Antes de encontrar um lugar no mundo, preciso encontrar um lugar dentro de mim
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
Mas pode ser que (de novo) afete, sim, porque é sobre ela que eu vou falar.
Já falei aqui sobre a minha banda favorita, e também já fiz um texto que foi inspirado por uma música deles. Então, nada mais justo do que falar sobre outra música muito importante pra mim, que representa o momento atual da minha vida — e que até tenho tatuagem pra ela.
Não sei explicar o motivo, mas eu sou uma pessoa meio fanática por astronautas. Na verdade, por coisas do universo no geral — e acho que o nome do microcosmo e das seções deixa isso meio óbvio. E não é um fascínio do tipo infantil, das crianças que acham que, quando crescerem, vão ser astronautas.
Ou talvez seja isso, sim.
Porque quando a gente é só um amendoinzinho sem preocupações, não temos medo de sonhar alto, de ter o brilho nos olhos pra falar sobre o que achamos que vai ser possível no futuro e de realmente acreditar no que falamos.
Os astronautas são um paradoxo humano fascinante. Eles representam o ápice da nossa busca por expansão e, ao mesmo tempo, a mais profunda experiência de isolamento. Viajam além da Terra pra entender melhor o que significa estar nela.
Imagino que, no espaço, tudo o que damos como certo na vida cotidiana se torna um luxo distante: o toque de outra pessoa, o som natural do vento, a liberdade de simplesmente caminhar sem esforço. O astronauta experimenta a mais pura solidão — não só física, mas também existencial. Ele vê o planeta inteiro de longe, pequeno, suspenso na vastidão do nada. E, nesse momento, talvez perceba com mais clareza do que qualquer um de nós que estamos todos presos a esse mesmo ponto azul, sem rota de fuga real.
Mas a solidão do astronauta também é um símbolo da coragem humana. Explorar o espaço é um ato de fé na ciência, na colaboração e no espírito de descoberta. É um lembrete de que a solidão não é só um estado de afastamento, mas também uma oportunidade de perspectiva — de ver o todo de um jeito que nunca poderíamos dentro da zona de conforto.
Talvez seja por isso que tantas pessoas se identifiquem com essa imagem do astronauta flutuando no vazio. Todos nós somos exploradores tentando entender nosso lugar no universo, enfrentando nossos próprios vazios e buscando conexão, mesmo a milhões de quilômetros de distância (um beijo aos webamigos!).
Dito tudo isso, quando a divulgação de Alonica começou, você pode imaginar o tamanho do grito que eu dei quando vi que toda a estética girava em torno de um astronauta.




Logo no início do clipe, aparece uma mensagem com a explicação do que significa a palavra Alonica:
Só nisso a pedrada já veio seca.
Estamos sempre procurando a felicidade do lado de fora. Queremos ter grandes experiências, fazer parte da vida de grandes pessoas, criar grandes memórias… Mas e o que já é grande dentro de nós e quer só um espaço pra sair?
Vivemos em um mundo que constantemente nos empurra pra buscar algo além de nós mesmos — reconhecimento, companhia, sucesso, amor. Mas e se o verdadeiro objetivo fosse encontrar um espaço interno onde simplesmente existir fosse o bastante? Onde a própria presença fosse uma fonte de conforto, e não de inquietação?
Alcançar esse estado é um exercício de autossuficiência emocional. Não significa isolamento ou indiferença, mas sim uma relação saudável com nós mesmos. Quando aprendemos a nos bastar, as conexões externas deixam de ser uma necessidade desesperada e se tornam escolhas genuínas. Estar com os outros passa a ser um complemento, não uma âncora.
Alonica não é só um lugar mental, mas um processo de aceitação. E, nisso tudo, pode ser que o maior desafio seja perceber que já temos tudo o que precisamos pra preencher ele.
Esse trecho é uma lembrança de que precisamos estar bem com nós mesmos, pra que quando voltarmos pra Alonica, pro nosso lugar, possamos nos sentir em casa.
Paul Klein, vocalista da banda, fez um desabafo no Instagram um pouco antes do lançamento e explicou de onde veio a inspiração da música.
Simplesmente não há nada no mundo que dói tanto quanto a traição. Estou convencido de que é o pior sentimento e experiência humana, e fui atingido bem na cara por ele. Com o passar dos dias e semanas, olhei no espelho e notei que o brilho em meus olhos havia desaparecido. Meu fogo pela vida foi roubado e minha fé na humanidade se foi. Eu era uma sombra de pessoa – zangado, desapontado, quebrado – e desesperado para me afastar da única coisa que mais me machucava… pessoas.
Você vê… eu sempre deixei meu coração à mostra. Então comecei a ser pago para fazer isso. E acho que presumi que as pessoas respeitavam isso e – por sua vez – protegeriam isso. Arrependimentos? Eu tenho muitos, e deveria ter sido muito mais exigente com quem confiei as pérolas do meu coração. Mas… por meio da reflexão e do isolamento, acabei encontrando ‘Alonica’… um lugar dentro de mim onde me ter e ser eu mesmo era o suficiente para mim. Parei de procurar nos outros e em fontes externas por amor, pertencimento e validação e tornei-me minha própria fonte de alegria e satisfação.
A jornada foi brutal, para dizer o mínimo, mas essencial se eu quisesse viver para ver mais uma semana neste planeta. Mas mesmo nas minhas noites mais escuras (das quais ninguém na terra jamais saberá), quando me senti invisível e esquecido, senti as estrelas olhando para mim.
~Longos suspiros~
Não preciso nem comentar nada sobre essa fala, né?
A solidão tem muitas formas. Às vezes, ela é um quarto vazio. Outras vezes, ela é estar cercada por pessoas e, ainda assim, sentir que ninguém realmente te vê. Existe algo paradoxal nesse sentimento — querer se conectar, mas, ao mesmo tempo, não saber exatamente como ou se vale a pena tentar.
Vivemos em uma era onde estamos mais acessíveis do que nunca, mas essa acessibilidade não significa proximidade real. A solidão moderna é peculiar porque não vem da ausência de pessoas, mas da falta de significado nas interações.
No meio disso tudo, eu oscilo entre o desejo de me esconder do mundo e a vontade desesperada de ser encontrada. Esse vaivém entre querer companhia e rejeitar ela é quase um estado permanente da minha existência. Me sinto ótima sozinha, mas eu já tô cansada de estar sozinha.
Em alguns momentos, saio só pra fugir dos meus próprios pensamentos; e em outros, fico porque o mundo lá fora parece não oferecer nada de novo.
Ainda não aprendi a lidar com essa solidão, mas Alonica sempre me lembra que, antes de encontrar um lugar no mundo, preciso encontrar um lugar dentro de mim.
E se você se interessou, aproveito pra deixar aqui o clipe:
O seu texto me tocou muito, me identifiquei em tudo.
🫵🏾✍🏾✨✨