Alguém sempre vai se identificar com o que você tem a dizer (#21)
De fato, nenhuma experiência é individual.
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (Obs.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
Não sei você, mas eu sempre acho que tô falando besteira. Posso ter certeza absoluta de alguma coisa, estar falando algo que tenho propriedade, porque sei, porque estudei, e minha frase vai vir acompanhada de um eu acho. Nunca tenho certeza de nada, só acho.
Na verdade, isso diminuiu bastante depois que levei chapisco de uma chefe minha. Eu tinha que apresentar resultados e dar soluções de melhorias, então, no meio de uma reunião com ela, inventei de falar “Eu acho que a gente poderia…”, e ela me interrompeu no meio da frase pra dizer: “Com um cliente você nunca pode achar nada, você precisa ter confiança no que tá falando, mesmo que não tenha tanta certeza. Da próxima vez, diz eu acredito que. Defende teu ponto de vista!”.
E, bom… Eu sinto que tenho muita dificuldade de defender o que acredito. É por isso que odeio brigas, odeio debates. Sempre penso que tô me contradizendo, que não vou saber me expressar, que alguém vai interpretar errado, então, prefiro ficar quieta pra evitar falar besteira.
E é por ficar em silêncio sempre, que eu escrevo. Com as palavras eu consigo me expressar, consigo dizer o que sinto, consigo ser profunda. Elas fluem de mim com uma naturalidade que a fala não faz. E quando escrevo, não tô tentando debater com ninguém ou provar nenhum ponto, só tô dizendo o que sinto.
Você deve ter se identificado com algum parágrafo aí de cima, não foi? É disso que tô falando. Uma coisa natural, uma angústia que me atormenta sempre, na verdade, não é só minha. E, caramba, é bom demais saber que esses sentimentos não são só meus.
Às vezes a gente acha que tá falando besteira, que ninguém vai entender, que só a gente passou por tal coisa, sentiu daquele jeito, pensou aquela maluquice. E aí a gente guarda, engole, finge que não tá ali.
Mas deixa eu te contar um negócio? Sempre tem alguém que vai se identificar.
Sempre.
Talvez não naquele momento. Talvez não na sua bolha. Talvez não da forma exata que você viveu, mas em algum canto do mundo — ou da internet — tem alguém precisando ouvir (ou ler) exatamente o que você tem a dizer. Alguém que vai respirar aliviado e pensar: caramba, então não sou só eu.
E isso vale até pras coisas que você acha bobas. Já reparou como às vezes é um comentário aleatório, uma frase simples, que bate forte em alguém? Porque não é sobre ser genial. É sobre ser honesto.
É por isso que você sempre vê um meme na internet e pensa meu Deus, euuuuu!!!!!
Então da próxima vez que você pensar “pra que falar isso?”, lembra que tem gente aí precisando ouvir exatamente isso. E às vezes, esse alguém é você mesma, só que num dia mais difícil.
Fala. Compartilha. Divide. Você nunca sabe quem vai se sentir menos sozinha por causa disso. Porque quando você fala, você valida. E nesse mundo onde todo mundo finge estar sempre bem, ser verdadeiro é um baita ato de coragem.
Tenho certeza que em algum momento você leu algum texto aqui no Substack e isso bateu profundamente, né? Eu sei porque isso acontece comigo. É uma coisa meio “Caraca, sai da minha cabeça! Como você sabe o que eu tô pensando?”.
E assim como me identifico com textos de outras pessoas, também tem muita gente que se identifica com os meus. Aqui vão alguns comentários muito queridos que recebo nos meus textos:
Às vezes, eu escrevo achando que tô sendo repetitiva ou que ninguém vai ligar. Ou pior: que vai parecer bobo. Mas aí chega alguém e fala “eu precisava ler isso hoje” — e pronto. Tudo faz sentido de novo.
É nessa hora que eu lembro: o que a gente sente não é tão exclusivo quanto parece. A gente só não fala tanto quanto deveria.
E não precisa ser um textão reflexivo, um desabafo profundo, uma história super bem escrita. Às vezes é só você sendo você. Dividindo o que tá passando pela sua cabeça, sem filtro. E isso já é o suficiente pra tocar alguém.
Porque a real é que todo mundo tá tentando dar conta da vida, segurando mil coisas e se sentindo meio perdido. E quando você coloca pra fora o que tá aí dentro, você mostra que não é só essa pessoa que tá tentando. Você também tá. A gente tá junto.
Então se um dia você ficar na dúvida se vale a pena compartilhar o que pensa ou sente, já te adianto: vale. Porque alguém, em algum lugar, vai ler e se sentir menos sozinho por sua causa.
E isso já é muito.
E já que a gente tá falando sobre isso…
Vamos combinar uma coisa? Para de achar que você precisa escrever “bonito” pra escrever algo que vale a pena.
Tem muita gente por aí com medo de colocar as ideias no papel (ou na tela) porque acha que tem que soar como um livro premiado. Que tem que ser profundo, ou ter uma mensagem perfeita, ou uma moral no final. E aí trava. Deixa de escrever. Deixa de se expressar.
Mas escrever não é sobre perfeição. É sobre presença. É sobre você sentar e colocar ali o que tá borbulhando por dentro. Com seus jeitos, seus erros de digitação, sua confusão, seu caos. Tem beleza nisso também.
Ninguém começa escrevendo como a Clarice Lispector. E adivinha? Nem precisa. Você só precisa escrever como você. Não é pra impressionar, é pra expressar.
E quanto mais você escreve, mais você se entende. E, de quebra, acaba ajudando outras pessoas a se entenderem também.
Então se tiver vontade, escreve. Um parágrafo, um tweet, uma nota no celular. Do jeito que for. O importante é começar.
Ninguém precisa ver agora. Mas você precisa se permitir colocar pra fora.
Tá vendo esse texto aqui de cima? Ele é meu segundo post com mais likes aqui no Substack. Escrevi ele num surto porque achei que seria divertido. Não tem nenhuma mensagem profunda em dizer que eu não confio em chaveiros ou que morro de pavor que alguém me veja fazendo cocô.
É um texto sem pé nem cabeça. Literalmente ninguém pediu pra eu fazer isso, eu só quis. E, ainda assim, as pessoas comentaram se identificando nem que fosse com um item da lista, ou adicionando itens às próprias listas.
E acho que isso é o que tem de mais legal em poder compartilhar os pensamentos num lugar público. Não o engajamento ou as curtidas, mas a interação entre pessoas que pensam ou sentem como você.
E falando em engajamento, prefiro mil vezes 2 comentários sinceros do que 2 mil likes de pessoas que só passaram o olho pelo meu texto e não absorveram nada do que eu disse.
Meu maior objetivo é ajudar alguém de alguma forma, seja com uma reflexão intensa, uma nota aleatória ou um comentário de conforto.
E sabe o mais louco? Quando você começa a escrever sem pressão, só pra organizar seus pensamentos, acaba descobrindo coisas que nem sabia que estavam ali. Tipo umas verdades escondidas entre uma vírgula e outra. Às vezes, no meio de um texto qualquer, você se encontra.
E isso vira quase um vício bom.
Porque quanto mais você escreve, mais você se escuta, mais você se entende. E mais você vai percebendo que escrever não é um dom mágico reservado pra alguns escolhidos. É prática. É hábito. É confiança. E é, acima de tudo, permissão.
Se permitir sentir, errar, colocar no mundo algo que é só seu — e ainda assim, pode ser de tanta gente.
Porque no fim do dia, é isso: sempre tem alguém precisando ouvir aquilo que você tem medo de dizer. Alguém vai ler, alguém vai sentir, alguém vai, de verdade, agradecer.
particularmente eu tenho MUITA dificuldade de me permitir, sabe? não só sobre a escrita, mas sobre tudo mesmo…
teu texto bateu forte aqui, uma das minhas metas é aprender a falar e a confiar no que eu digo
ACHO QUE NUNCA ME SENTI TÃO TOCADA COM ALGUM TEXTO NO SUBSTACK COMO ESSE.
tenho medo de me expressar até para mim mesmo, acho que vai parecer patetico.
muito obrigada pelo seu texto, de coração