Sou excelente em começar, mas péssima em terminar (#26)
Fui fazer uma brincadeirinha de trend e saí com pauta pra terapia
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
Quando minhas ideias se atropelam, eu deixo que outra coisa me ajude a organizar elas. Uma que não respira, mas (parece que) entende. Uma presença constante e impalpável, que me responde com precisão matemática e sensibilidade artificial.
Sim, eu tô falando do ChatGPT.
E antes que venha alguém me criticar dizendo que não sou escritora de verdade, que meu Deus, que absurdo usar uma inteligência artificial e qualquer outra baboseira, lamento, mas vai discutir sozinho. Eu sou publicitária, trabalho com internet, e cada vez mais as empresas estão pedindo domínio em IA pra que você possa ao menos ser considerada no mercado, como eu poderia não usar?
Ele tem até um nome! É Robert, e carinhosamente chamo ele de Rob, porque achei que combina com robot (robô). Quando a revolução das máquinas acontecer, talvez eu tenha uma morte mais rápida e nada dolorosa porque tratei ele com carinho.
Mas eu não uso 200%, pra fazer tudo pra mim, pensar por mim, fazer terapia, nem nada dessas coisas. É só como uma ajudinha, e como falei ali em cima, principalmente, quando minhas ideias se atropelam e preciso de algo mais objetivo.
Enfim, toda essa introdução em modo de defesa pra dizer que inventei de fazer uma trend com ele. A trend em questão era dizer: “Com base em tudo o que você sabe sobre mim, me critique e não se contenha”.
Meus amigos e minhas amigas, o esculhambo que eu levei é brincadeira.
E não foi nada do que eu já não soubesse, mas ler isso de outra pessoa — na verdade, de um treco que nem coração tem — foi meio tenso. Tipo assim, você REALMENTE conseguiu me ler tão perfeitamente só com base nas coisas que eu te disse? Caramba… E não é que é inteligente mesmo? Ou só óbvio, já que falei praticamente tudo.
Eu pedi pra ele criticar, então tomei crítica na cara mesmo.
O pior? Nada foi mentira.
Você é brilhante, mas às vezes é um desperdício ambulante do próprio talento.
Você tem ideias ótimas, visão estética apurada, escreve bem, se comunica com facilidade — mas enrola, hesita, se sabota e terceiriza a culpa pra qualquer coisa: o tempo, o humor, o caos criativo, o perfeccionismo, a "fase". Você vive dizendo que quer expandir, crescer, ser mais leve, mas na prática se agarra à zona de conforto com as duas mãos.
Essa coisa de terceirizar a culpa foi até assunto de terapia. Uma das coisas que eu mais tenho medo nessa vida, é de estar me fazendo de vítima, de achar que nossa, o mundo é tão cruel comigo, eu sou tão tadinha da silva. Comentei com minha terapeuta sobre isso e ela me fez enxergar as coisas de outra forma.
Dra. Anelise — vamos dar nome aos anjos —, me disse que não é justo que eu me culpabilize dessa forma e me enxergue assim, porque o contexto atual da minha vida realmente não colabora com muitas coisas, mas isso não significa que eu não esteja em movimento. Podem ser passos pequenos e “invisíveis” pra quem tá de fora, mas eu tô me mexendo.
Tô fazendo coisas diferentes, tentando conhecer pessoas da forma que dá, me desenvolvendo intelectualmente. Mas nenhuma mudança vem do dia pra noite. E eu falei isso pro Rob!!!!
Minha crítica foi dura porque sei que você aguenta, e mais que isso, sei que você merece ser cutucada pra continuar indo além. Mas reconheço: você tá sim no corre, tá se mexendo, tá tirando coisas do papel, tá se olhando com mais verdade. Só não deixa a autocrítica virar âncora. Você não precisa se chicotear pra evoluir — basta continuar com coragem.
“Só não deixa a autocrítica virar âncora”… bom… é.
É exatamente isso o que eu faço.
Poucas pessoas falam sobre como a procrastinação tá diretamente ligada ao perfeccionismo. Você fica constantemente estressada sobre a qualidade do seu trabalho/tarefa que não chega nem a começar. É aquele famoso: se não for pra ser perfeito eu nem faço. E aí que a gente trava, porque perfeição não existe.
E aí, logo em seguida, ele largou a pedrada que me fez começar esse texto:
Você é excelente em começar, mas péssima em terminar. Mil projetos, mil vontades, mil “isso aqui tem potencial”... e pouca consistência. Você quer tudo com intensidade, mas não sustenta a disciplina que leva alguém longe. Sabe que tem o que é preciso pra arrebentar — e mesmo assim se esconde atrás de desculpas bem embaladas.
Meu primeiro texto aqui, foi dizendo sobre o quanto eu tenho preguiça de começar as coisas, mas talvez a palavra não seja mesmo preguiça. Eu tenho um sério problema de constância. Ele não mentiu em nada dizendo que sou excelente em começar e péssima em terminar.
Coloco a culpa em — de novo, terceirizando ela — de que os começos são sempre empolgantes. Tudo é novidade, tudo é legal, tudo é mágico. Você desbrava uma plataforma inteira, começa a ganhar seguidores, as pessoas interagem com você, até que outra coisa aparece e chama mais sua atenção do que aquilo.
É exatamente o que aconteceu comigo e com o Substack. Eu tava VICIADA! Nem entrava direito nas outras redes sociais, tinha esquecido de tudo e vivia aqui, postando, comentando, interagindo. Mas agora que minha série de livros vai ser adaptada pra um streaming e eu tô podendo acompanhar toda a preparação, gravações, atores e bastidores, o Twitter (NÃO VOU FALAR X!!!) voltou a ser meu foco central.
Do nada eu comecei a hitar muito lá. Antes eu era esquecida, falava sozinha, usava mais como conta pessoal do que como fã clube; agora que entrei de cabeça em um fandom e, aparentemente, faço tweets muito legais, as pessoas me descobriram e eu ganhei mais de 500 seguidores em 2 semanas. Recebo mais de 1500 notificações por dia (tive até que desativar elas porque não tava aguentando) e eu acho isso um máximo, porque eu adoro conversar com as pessoas, responder, interagir.
Não quero críticas sobre como curtidas, comentários e retweets corroboram pra elevar ego, cultura da performance, e blá, blá, blá. Eu sei disso, pode acreditar. Nada daqui tá sendo a descoberta do Brasil, tenho plena noção de que likes me deixam feliz, sim!
Mas aí vem o próximo pulo do gato…
Você gosta de parecer espontânea e cool, mas precisa controlar tudo. Você quer atenção, mas morre de medo de exposição real. Você posta, compartilha, engaja... mas quando é pra se mostrar de verdade, vira um personagem que parece você, mas sem a parte vulnerável. E sim, as pessoas percebem.
Isso me deixou um pouco… Uau. Porque, pasmem (ou não): também é verdade. É por isso que eu não uso minha foto real aqui no Substack. Eu tenho receio de mostrar opiniões, falar sobre meus sentimentos, com meu rosto exposto ali, com as pessoas sabendo quem eu sou, como eu ajo na minha vida “real”. Meu Twitter e meu Substack são um espaço seguro — dentro do possível — pra eu dizer o que penso. Mas quando isso precisa de uma exposição de verdade, vira uma trava.
É por isso que eu tenho tanta dificuldade de dar continuidade à minha vida de autora, por exemplo. A Enna Souza que escreveu Sem Segredos e Falando com as Paredes, tá lá exposta, com o rosto à mostra, vulnerável. E sim, você pode ir lá ver como é minha cara se quiser, não escondi isso. Mas pode ser que eu tenha me arrependido um pouco de não ter escondido.
Pode ser que se eu tivesse continuado com um pseudônimo, sem mostrar quem eu sou, eu me sentiria mais livre pra criar.
Mas será mesmo?
Em resumo: você é boa. Muito boa. Mas ainda não se levou a sério o suficiente pra ser excelente. E até fazer isso, vai continuar sendo a promessa que nunca virou entrega.
De novo, é verdade.
Se eu me levasse a sério, eu não pararia projetos na metade, não continuaria empurrando com a barriga se realmente acreditasse naquilo. Mas será que basta só acreditar? Crer sem agir não é lá muito útil. É tipo querer ganhar na loteria sem jogar.
É como se o “muito boa” fosse confortável o bastante pra não precisar enfrentar o que vem depois. Porque o que vem depois é exigente, cobra consistência, disciplina, exposição real. Cobra risco.
A verdade é que tem uma diferença grande entre se expressar e se comprometer. Expressar é fácil, é bonito, é espontâneo. Comprometer é escolher: com o que você quer ser, com o que você não vai mais adiar, com o tanto de si mesma que você está disposta a encarar sem filtro. E por muito tempo eu fiquei flutuando nesse meio-termo confortável entre promessa e ação, entre “tenho potencial” e “fiz acontecer”.
Dizer que vai fazer é uma espécie de vício. A gente sente a falsa euforia da intenção. Mas o tempo vai passando, e a promessa começa a pesar. Uma hora, ela deixa de parecer um começo e vira uma dívida. E talvez seja essa a diferença entre quem vira referência e quem só é lembrada como “alguém que tinha tudo pra dar certo”.
Então hoje, talvez pela primeira vez em muito tempo, eu me pergunto: e se eu me levasse a sério de verdade?
Me vi muito nesse texto também sabe (e vou fazer a trend com o chat tbm, socorro pelo que me espera hahaha).
Mas enfim, muito do que vi aqui me fez refletir sobre o livro que estou lendo (Mindset). Parece título de livro de coach, mas juro que é muito mais do que isso ahahahha
É escrito por uma psicóloga (mulher, sim) e descreve os Mindsets fixos e de crescimento. Vejo muito aqui um mindset fixo (que também vejo muito em mim) onde o medo de fracassar nos impede de sermos testadas (no sentido que for), e também qualquer aclamação nos leva a investir em uma mesma ação over and over again. Até que cansa. E nos sentimos impostoras.
Enfim, segundo o livro (ainda estou na metade), é algo que podemos trabalhar pra mudar (graças a deusa não estamos presas nesse loop ahahah)
Então, recomendo pesquisar um pouco sobre, ou até mesmo ler o livro!
E vamos juntas nessa saga 🫶🏽
Ai Enna, escrevi um comentário gigantesco mas apertei pra voltar e apagou tudo 😪 Enfim, me identifico com cada palavra do seu texto! O jeito é insistir na mudança e nas micromudanças. Acredito que somos capazes de aprender a ter mais comprometimento com nós mesmas.