Na sala de espera da vida, descobri que a porta nunca esteve trancada (#22)
O paradoxo de querer ir, mas não saber pra onde
Antes de começar, uma musiquinha pra relaxar… (OBS.: não me responsabilizo por nenhuma letra que possa te afetar).
Tem dias que eu me sinto como um avião parado na pista. Motores ligados, tudo pronto, mas a torre de controle segue muda. E eu fico ali, esperando a liberação que nunca vem.
Como se fosse um constante “a qualquer momento”, e sigo alerta, aguardando os sinais. Mas que sinais? Será que eles existem mesmo ou é só uma desculpa pra dizer que só não agi porque ainda não era a hora?
Às vezes eu tenho medo de estar me escondendo atrás da espera, como se a vida estivesse em pausa por escolha minha.
E pode ser que esteja mesmo. Então é só levantar e entrar, né?
Queria que fosse tão fácil assim.
Sempre comento nos meus textos sobre uma frase da minha psicóloga que me marcou profundamente.
Fazer é um risco, e não fazer também é um risco.
Ela me disse isso em uma das nossas consultas, me ajudando a lidar com uma coisa completamente besta: medo de mandar mensagem pra um carinha que eu queria conversar.
Listei pra ela minhas inúmeras paranoias, o receio dele me achar muito atirada, de não me responder, de tirar sarro com os amigos ou sabe-se lá que outras atrocidades minha mente tava pensando. E aí ela deu a canetada.
Não mandar mensagem pra ele me faria apenas continuar imaginando todas as situações. Eu nunca ia saber o que ia acontecer de verdade, então, assim como mandar a mensagem tinha seus riscos, não mandar também tinha.
E aí eu fiz, porque sou do time “melhor se arrepender de ter feito, do que de não ter feito”, então a frase dela foi quase uma releitura desse mantra que carrego comigo.
Porque é, de fato, uma verdade. Muitas vezes pensamos que agir é arriscado porque envolve incertezas, erros e consequências imprevisíveis, mas o que na vida é previsível? Vocês já tem bola de cristal? Porque eu, não.
No meio disso tudo, nem sempre percebemos que a inação também tem seu próprio risco: o de estagnação, de perder oportunidades, de sofrer por não ter tentado. Fazer algo pode levar ao fracasso, mas também pode levar ao sucesso, ao aprendizado, ao crescimento. No fundo, não existe um caminho totalmente seguro.
De novo: queria que fosse simples assim? Claro que queria. Mas espernear não vai mudar a realidade.
Eu não quero ficar presa na possibilidade. Não quero ficar numa zona de conforto que é tão parada que chega a ser desconfortável. Até a cadeira mais macia vai fazer sua bunda doer em algum momento se você ficar muito tempo sentado nela.
Tem coisa que só acontece quando a gente topa o risco de quebrar a cara. E não é sobre ser inconsequente ou sair fazendo tudo no impulso — é sobre entender que o erro faz parte do caminho. É tipo aquele momento antes de mandar a mensagem, se declarar, começar um projeto novo ou até mudar de cidade.
É o clichê de pensar:
E se não der certo?
Mas e se der?
A gente romantiza muito o acerto, mas ele só vem depois de muito teste, tentativa, erro, correção de rota, crise existencial, vontade de largar tudo e, no fim, persistência. O erro não é o oposto do acerto. Ele é o caminho até lá.
Você acha que o primeiro avião voou perfeitamente na tentativa nº 1? Que a primeira receita de lasanha ficou perfeita na primeira fornada? Eu não tava lá, mas posso afirmar com certeza que a resposta é não.
Porque é no erro que a gente aprende, que entende o que dá pra fazer e o que não dá, o que pode ser melhorado e o que jamais pode acontecer de novo.
Então, se você tá vivendo um momento em que parece que nada tá funcionando… talvez seja só o universo te lembrando que ainda não deu certo. Mas tá no processo. Você tá no risco — e isso é bom sinal.
Se for pra errar, que seja tentando. Se for pra dar certo, que seja com alma.
Escrevo pra outras pessoas lerem, mas, na maioria das vezes, é um autoconselho disfarçado. Eu digo “faça”, “seja assim”, “não pense assado”, quase como se estivesse falando com meu próprio cérebro pra que ele entenda as coisas de uma vez por todas.
Agora, por exemplo, eu tô passando por um momento de crise existencial na minha vida, em que eu sei que preciso de mudanças, acredito que tô disposta a passar por elas, mas pode ser que, internamente, eu não esteja realmente tão disposta assim.
É uma sensação de estar à beira de algo, mas sem enxergar o que é ou como alcançar. E aí bate esse combo: querer muito mudar, mas sentir que não tenho energia ou clareza pra começar. E ainda ter que lidar com a culpa por isso. É uma mistura exaustiva, sabe?
A real é que às vezes a gente entra nesse modo meio nevoeiro — sabe que algo precisa mudar, mas não consegue nomear. E o mundo cobra decisões concretas, tipo “então se muda logo”, “larga esse trabalho”, “vai viver sua vida”, mas nem sempre é tão simples. Porque às vezes o que precisa mudar é interno antes de ser externo.
Talvez o que esteja me sufocando é o intervalo entre esses dois pontos. Esse meio do caminho que é incômodo, frustrante, e parece que não anda. Mas anda. Aos pouquinhos, só que a gente só percebe depois.
O famoso baby steps, sabe? Uma hora a gente tá andando, na outra caindo e depois virando cambalhota.
O problema é que o mundo pede resultado visível enquanto ainda tô no backstage montando tudo. E, sinceramente, talvez o que esteja faltando agora não é mudar mais uma coisa, e sim aliviar a pressão. Porque do jeito que tá, parece que vivo como se estivesse sempre devendo uma mudança urgente pra mim mesma, e isso machuca. Ainda mais quando parece que nada me dá passagem.
E cansa demais viver num morde e assopra de:
“E se eu não tô sendo estratégica, mas sim covarde?”
“E se esse plano todo for só uma forma bonita de fugir do risco?”
Quero mudar, quero me jogar, mas também não quero me perder no processo — e aí fico nesse limbo entre agir com cautela e me cobrar por estar com medo demais.
É um paradoxo que existe, sim. Mas talvez ele não precise ser resolvido agora. Talvez o meu trabalho nesse momento seja só ficar com ele, sem tentar me forçar a decidir entre os extremos. Assim como eu, você pode estar se preparando e, ao mesmo tempo, estar com medo. Os dois sentimentos podem coexistir. E não é isso que te define — o que vai te definir são as escolhas que você vai continuar fazendo, mesmo com medo.
Acho que eu tô mesmo é cansada de ser sempre o movimento. De sempre puxar a corda sozinha.
Eu só queria que, por uma vez, a vida viesse até mim.
Essa última frase me atingiu em cheio. Eh exatamente como me sinto e nem sabia rsrs
Mas sobre medo, li recentemente que para se ter coragem, eh necessário o medo a ser vencido. Então faz parte do processo!
E acho que para sairmos da inércia primeiro temos que nos perceber no momento presente mesmo, estar consciente e atento para perceber o momento de agir ♥️
Eu amei tanto esse texto que nem sei! Tanto conselho e puxão de orelha junto. Já considero muito!