Não é crime querer pertencer a algum lugar (#28)
E tudo bem não ter encontrado ainda.
Nos últimos dias, ando reflexiva até demais. E é claro que é por isso que você tá lendo esse texto agora. Sempre escrevo quando não aguento ficar com os pensamentos só pra mim. Eles precisam transbordar, porque chegou a hora de alguém ler e se identificar comigo. Sei que não é uma experiência individual.
Trato sobre muitos assuntos nas minhas sessões de terapia, e nas conversas sobre meus sentimentos, sobre como lido com as coisas e como desejo outras, meio que o centro de tudo é uma única coisa: quero me sentir pertencente.
Cheguei a falar sobre isso aqui nesse texto. 👇🏻
Mas, apesar de ser um assunto parecido, não é bem pela mesma linha que vou seguir.
Já falei aqui várias vezes sobre a minha criação, sobre como sempre fui independente e lidei com tudo sozinha, não porque eu queria, mas porque precisava, e isso se internalizou em mim de uma forma que me faz acreditar que sou melhor sozinha.
E, no meio dessa maratona de provar que “tá tudo bem”, às vezes meu desejo de pertencer fica um pouco de lado. Quero me encaixar, ser aceita, encontrar aquele canto em que o coração respira aliviado e pensa: aqui é seguro.
Não é fraqueza querer isso. Não é carência. É humano.
Querer pertencer não significa se moldar até perder quem você é, mas sim buscar conexões que reconhecem sua essência e, ainda assim, escolhem ficar. É sobre encontrar aquela mesa onde você pode rir sem pensar se a sua risada é alta demais, onde você pode existir sem precisar se justificar.
E essa sensação não é só nas relações de amizade, mas também amorosas e profissionais.
Eu tinha um emprego que eu detestava. Além de fazer algo que eu não gostava, o ambiente era completamente oposto ao que eu achava ser ideal. Não sentia nenhuma conexão com nenhuma pessoa daquele lugar e isso me frustrava de uma forma sem igual. Imagine passar 8 horas de 5 dias por semana em um lugar com pessoas que você detesta. Era assim a minha rotina. E eu odiava tanto, porque não me sentia pertencente.
Agora, tô em um processo de trocar de emprego e não sei o que me espera lá, mas torço pra que eu me encontre de alguma forma.
E buscar pertencimento jamais vai ser sinal de vulnerabilidade, porque o “pertencer” não te diminui, ele te fortalece. É o abraço invisível que lembra que você não tá sozinho nessa vida.
E bem ligado ao pertencimento, também tem o desamparo. E esse é mais um dos assuntos que falo sobre na terapia.
É um tipo de silêncio que aperta o peito. É quando parece que você tá no mundo, mas não faz parte dele. Como se todos estivessem dançando a mesma música, e você estivesse parada, sem saber o ritmo.
É aí que o pertencimento se torna quase um grito interno. Não é sobre estar rodeada de pessoas, mas sobre se sentir vista, validada, entendida. O desamparo nasce da ausência disso, da sensação de não ter um chão que segure os pés.
Pertencer cura essa ferida invisível. Porque quando a gente encontra um espaço onde pode existir sem medo, o desamparo se dissolve. Ele dá lugar a um tipo de paz que só vem quando alguém olha pra você e diz, mesmo que sem palavras: “você é bem-vinda aqui, do jeito que é”.
Às vezes, o desamparo só existe pra lembrar a gente do quão precioso é quando finalmente encontramos esse lugar seguro.
Não tenho a sensação de pertencimento no meu círculo social atual, porque sou do tipo que tá em todos os lugares. Tenho vários amigos, mas brinco que cada grupo pertence a uma personalidade minha. Tem o grupo da internet, das minhas melhores amigas, do pessoal da faculdade, de pessoas aleatórias que já cruzaram meu caminho em algum momento… E tenho uma boa relação e conexão com todos eles, mas é diferente.
Minhas melhores amigas estão a mais de 500 km de distância de mim — e uma delas, inclusive, a mais de 10 mil km, porque mora fora do Brasil há 3 anos. Elas são as pessoas que mais fazem eu me sentir vista e entendida, mas sinto muita falta de uma presença física que me compreenda da mesma forma. É difícil passar por uma semana de merda e conseguir desabafar só por áudios do WhatsApp, quando eu queria estar deitada no colo delas reclamando sobre o quanto a vida é uma porcaria às vezes.
E, fazendo um paralelo meio aleatório (mas não muito), se a gente parar pra pensar, amor e pertencimento são quase sinônimos, porque amar alguém de verdade é encontrar um lugar onde você pode ser quem é, sem medo. É um tipo de lar que não tem paredes, só presença.
O problema é que, muitas vezes, confundimos amor com a tentativa de caber em alguém, de encolher nossas dores, de silenciar nossas vontades, só pra sermos aceitos. Mas amor de verdade não pede que você se esconda, ele te reconhece até nos seus dias cinzas.
Talvez o amor mais bonito seja aquele que chega como um “você pode descansar agora”. Onde o peso do mundo é compartilhado, onde o desamparo não tem espaço porque alguém decidiu estar ali, com você, de forma inteira.
E nesse paralelo de amor, pertencimento e desamparo, sigo orbitando em todas as áreas. Ainda não encontrei nenhum lugar em que pudesse apenas existir sem pensar tanto, sem sentir que tô sempre tentando caber.
Enquanto não encontro, sigo vagando, meio perdida, meio esperançosa, tentando acreditar que em algum momento vou topar com um canto do mundo que me acolha sem exigir tanto esforço.
Não é crime querer ter um lugar — ou mais de um — pra chamar de “meu”. O crime seria desistir disso por achar que não mereço.
acho que no fim, a parte mais difícil disso tudo é identificar o que é e o que nao é amor de verdade
nossa, enna, suas palavras me tocaram tanto, parece até que entrou na minha mente! acho que é isso, a gente tá sempre em busca de encontrar essa sensação em algum lugar ou alguém até que, uma hora, chegamos lá.
obs.: amei você colocando divinos rivais, nunca esqueci esse livro desde que li. ♡♡♡